História de Maceirinha

Não se conhecem vestígios pré-históricos nem da época histórica até ao século XV, na àrea do actual lugar de Maceirinha, mas não é improvável que já houvesse moradores, uma vez que o lugar se situa nas vizinhanças de sítios onde essa ocupação é documentada. Recordemos, por exemplo os vestígios de ocupação romana no Arneiro e em A-do-Barbas e até no Vale-Salgueiro e no Porto do Carro, onde restos de escórias de ferro apontam para a existência de exploração e fundição de ferro na mesma época romana ou na Idade Média.

No que diz respeito à documentação escrita, julgo que se pode identificar o topónimo “arriba de Maceira” (acima de Maceira), onde havia moradores no século XV, relacionados com o convento da Batalha, o sítio mais tarde passou a designar-se sucessivamente por “Aldeia de Cima”, “Cima de Maceira”, “Maceira de Cima “ e “Maceirinha”.
No ano de 1517, eram, ao todo, 80 os fogos (entre 280 a 320 habitantes) que ficaram a pertencer à nova capelania, equiparada a paróquia, e que iam ouvir a missa à Igreja de Santa Maria de Maceira (actual igreja paroquial).

Em documento do ano de 1524, refere-se que entre esses moradores havia “os de Cima de Maceira”. Três anos depois, fez-se um recenseamento da população do Reino. São registados como moradores de Maceira, no termo ou concelho de Leiria 81 fogos, entre os quais 5 da “aldeia de Cima”, e no concelho da Batalha 15 fogos, dos quais 8 eram de “Maceira de Cima”. Penso que estes últimos moradores eram recenseados como sendo do concelho da Batalha, embora vivessem no de Leiria, possivelmente dois deles eram João de Maceira e Jorge de Maceira, que aparecem numa das folhas dos oficiais das obras de mestre Boitaca no mosteiro de Belém, em 1514 e 1517. É sabido que Mestre Boitaca dirigiu também obras no mosteiro e na igreja matriz da Batalha e possivelmente também na igreja de Maceira, no período manuelino.

A figura mais em destaque no século XVII, em Maceirinha foi um tal João Francisco, de alcunha “o rico”, por ser um abastado proprietário, que deixou numerosa descendência, ainda hoje existente. Possuía aí uma quinta, onde fez testamento no dia 10 de Junho de 1681, no qual determinou que a ermida que mandou construir seria “da invocação de Nossa Senhora do Rosário ou de Santo António ou de S.João, e estas imagens se porão todas na dita capela, na qual se dirá todos os domingos uma missa, a qual pagarão meus herdeiros”. A capela só foi terminada em 1683, data inscrita no velho campanário que passou depois para a segunda capela contruida nos finais do século XIX.

D. Joana Inácia, viúva de Manuel Leite do Vale, um dos descendentes de João Francisco, voltou a casar nos finais do século XVIII, com um fidalgo, chamado João Pereira de Faria Abreu Salema, que mandou colocar o seu brasão na casa que tem o numero 5 da rua do Guilherme. Esta é a leitura heráldica: “assente numa catela, de aconcheados, um escudo quadrado, esquartelado: no 1º e no 4º as armas dos Abreus (modernas): cinco asas postal sautor (em x); no 2º e 3º, as armas dos Salemas: um castelo, bordadura carregada com sete salemas (peixes), nadando uma atrás da outra”. Como timbre, um elmo.

Anexo à capela, havia um pequeno largo com cruzeiro, ainda hoje existente. Um outro Cruzeiro – a chamada “Cruz de Mendes” – foi edificado no ano de 1934, no antigo caminho que vai da Meceirinha à sede da freguesia.

A velha capela particular foi demolida em 1896. No local onde existiu foi colocada uma lápide: “Local da antiga capela de S.João fundada em 1683, mudada em 1896 para onde existe agora”. Joaquim Cardoso levantou esta memória em 1914.

A segunda capela ficou concluída no ano de 1897, sobrevivendo até ao ano de 1984, em que foi substituída pela actual, iniciada no dia 15 de Julho de 1984, com a bênção da primeira pedra, e conluída no dia 9 de Novembro de 1986, com a benção feita pelo Sr. Bispo de Leiria, D.Alberto Cosme do Amaral.

Para além destes melhoramentos, de carácter religioso, podemos referir a escola do primeiro ciclo do ensino básico, que substituiu o velho edifício da escola primária construida pelo povo por volta de 1834, no sítio da Eira Velha, onde agora se encontra a escola pré-primária.

O Empreendimento civil de maior importância, actualmente existente no lugar, é o complexo da Associação Cultural e Recreativa de Maceirinha, fundada em 19 Abril de 1968, pólo de actividades desportivas e culturais, que o povo de Maceirinha tem acarinhado.

O lugar foi atravessado, até aos princípios dos anos 50 pelo caminho-de-ferro do Lena que ligava as minas de carvão da Bezerra, na serra dos Candeeiros, e a Martingança, com um ramal para a fábrica de cimentos Liz.

Lamenta-se que o seu leito não tenha sido aproveitado, em devido tempo para construir uma variante da actual estrada, no lugar de Maceirinha.

A estrada nacional n.356 que liga a Martingança às proximidades de Alvaiázere foi feita, em grande parte, sobre o antigo traçado da chamada “estrada do Guilhermo” estrada pombalina, mandada fazer nos anos 70 do século XVII, pelo industrial vidreiro inglês, Guilherme Stephens, para escoamento da sua produção, que ligava a marinha grande à antiga Estrada Real, no Sítio do Chão da Feira. Seria muito útil reconstruir essa velha estrada, no troço que vai do Arneiro da Freira, ao fundo do lugar de Maceirinha, à Calvaria.

Desde os princípios do século XX, existiram várias cerâmicas e fornos de telha e tijolo, todas já infelizmente desaparecidas. Hoje só existem algumas pequenas indústrias.

O lugar só foi electrificado em 1965, juntamente com outros lugares da freguesia.



Pe Luciano Cristino