Resumo histórico da Vila de Maceira

A actual Vila de Maceira, já habitada na época romana, voltou a sê-lo pelo menos desde o primeiro século da nacionalidade portuguesa.

Em documento de 1211, já é mencionada uma ermida dedicada a "Sancta Maria de Macenaria" (Santa Maria de Maceira) (anot.1) no local onde hoje se encontra a Igreja Paroquial. Dependia esta ermida do Convento de Santa Cruz de Coimbra, que deteve o domínio espiritual de Leiria e seu termo até ao ano de 1545, em que foi criada a diocese Leiriense.

Nas proximidades desta ermida, existiu um reguengo (propriedade régia), documentada no ano de 1264 (anot.2), e uma quinta, denominada "Quinta de Maceira", doada em 1293 pelo Cónego Vasco Domingues à Sé de Coimbra (anot.3)
A Ermida de Santa Maria de Maceira, que entretanto passou a denominar-se de 'Nossa Senhora da Luz", foi elevada a sede de freguesia, desmembrada da de S. Estêvão de Leiria, em 1517, "a petição dos moradores do dito lugar e dos vizinhos"; pelo Infante D.Afonso, filho de D.Manuel I, "administrador ou comendatário do dito Conveto de Santa Cruz "(anot. 4)

A Igreja foi então ampliada, em estilo manuelino, pelo fidalgo Sebastião da Fonseca, enfiteura da referida quinta e corregedor da comarca da Estremadura (anot.5), o qual recebeu carta de brasão "por descender da geração e linhagem dos Bivares"(anot.6). Esse brasão ainda hoje é visível no frontão da capela lateral da Igreja Paroquial, chamada primitivamente de "Nossa Senhora do Pranto" ou "do Descimento da Cruz" e actualmente conhecida por 'Capela dos Santos Brancos', mandada construir por Francisco da Fonseca, filho daquele fidalgo, em 1563 (anot.7)

A referida quinta esteve na posse da Sé de Coimbra, aforada dos herdeiros dos Fonsecas, até ao século passado, em que foi remida. Manteve-se indivisa até há poucos anos, pertencendo hoje a vários proprietários.

A quinta de Maceira e todo o vale que se estende até à Freguesia da Batalha, eram irrigados pela Ribeira de Maceira que "nasce da Fonte do Rei de entre penedos", "com a grande abundancia" (anot.8), fonte que, segundo uma formosa lenda, brotou de improviso, quando o rei para se dessedentar e aos cavaleiros que o acompanhavam, mandou ao seu cavalo que ferisse a rocha.

A Ribeira é engrossada pela água de uma outra fonte que brota debaixo da Ermida de Nossa Senhora da Barroquinha, um sítio aprazível que fica junto da igreja paroquial e vai desaguar no Rio Lena, afluente do Lis.

Tinha nos meados do século XVIII, "engenhos e moinhos bastantes e dois lagares de azeite" (anot.9) e, nos finais do século XIX e princípios do presente, fornecia a força motriz à indústria cimenteira, instalada em 1893, na quinta já referida, junto da igreja paroquial, depois de ter iniciado a produção, dois anos antes no sítio da Gândara (anot.10).

O Desenvolvimento económico de Maceira, que funda as suas raízes naquele vale fértil, veio tornar-se realidade palpável, sobretudo a partir do ano de 1923, em que uma outra grande unidade industrial cimenteira iniciou a sua produção, no mesmo lugar da Gândara, escolhendo como marca o nome e a flor-de-lis, e dando origem a um aglomerado populacional - Maceira-Lis- agora incluido na Vila (anot.11)

Assim, de um vale florescente, no meio do qual corria um rio que dava vida à pequena indústria, ligada à subsistencia alimentar e aos incícios da actividade cimenteira - tudo representado heraldicamente pelas faixetas ondulares, carregadas das três azenhas, das quais surgem os ramos de macieira com frutos, - vai nascer a grande indústria, representada simbolicamente pela flor-do-lis, adoptada também por outras firmas e colectividades da freguesia.

A escolha da simbologia principal do brasão inspira-se também nas armas da família Maceira, a qual tira o seu nome de uma outra Quinta de Maceira, da freguesia de S.Adrião, no concelho de Barcelos: no timbre das armas desta família, os ramos de maceira ou macieira estão associados precisamente à flor-do-lis de ouro (anot.12)

 

Alfredo Manuel Marques Pereira
Dr. Luciano Coelho Cristino
(Heráldica da Vila de Maceira)


Bibliografia

( anotação 1 ) - Arquivo Nacional da Torre do Tombo (A.N.T.T.), Santa Cruz de Coimbra, maço 15, doc. n. 34 e 35 (anexo 1-A), Deve referir-se que Mecenaria ou Maçanaria, que evoluiu para Maceira, designa, sem dúvida a àrvores de dá maçãs: maceira ou macieira (cf. J. Leite de Vasconcelos, Ensaios de onomatologia portuguesa em 'Revista Lusitana' 1 (1887 - 1889), p.241-243). Também é dessa opinão J. Pereira da Costa, em Breve Memória da Egreja Parochial de Maceira no Concelho de Leiria. Tipografia Leiriense, 1900 p.4

( anotação 2 ) - A.N.T.T., Gavetas XI-6-25;Chancelaria de D.Afonso III, livro 1, fl 70; livro 3, fl.19; Direitos Reais, livro 2, fl.238; publicado em Pedro de Azevedo 'Os Reguengps da Estremadura na primira dinastia', doc n.16, em 'Revista da Universidade de Coimbra', II (1933), p.593-594; e em separata, p. 17-18

( anotação 3 ) - 'Eu Vasco Domingues Coonigo da See de Coymbra [...] mando ao Cabido de Coymbra per meu aniversayro a mnha quintaa de Maceeyra a qual ei eu ermo de Leirêa' (A.N.T.T., Sé Coimbra, maço 8, n.375)

( anotação 4 ) - Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria (1657), 3ª edição, Leiria, 'O Mensageiro' 1930, pag.113

( anotação 5 ) - Couseiro, pág 114-115; J.P.Costa Ob.Cit. p.4-7

( anotação 6 ) - A.N.T.T., Chancelaria de D.João III, livro 4, fl,15v; Visconde Sanches de Baena, Archivo Heráldico-Genealógico, Lisboa, 1872 p.567; Armarial Lusitano-Genealogia e Heráldica, 3ª edição, Lisboa, 1937, p.100-101;

( anotação 7) - Couseiro, pág 114-115 (Anexo III); J.P.Costa, Ob.Cit.,pág. 4-5

( anotação 8) - A.N.T.T., Memória Paroquial de Maceira, 6.04.1758; em ; Dicionário Geográfico de Portugal, tomo 22,pag. 72-73 )

( anotação 9 ) - Memória Paroquial de Maceira, p.73

( anotação 10 ) - J.P.Costa, Ob.Cit. pág 19-21

( anotação 11 ) - José Osório da Rocha e Mello, 'A indústria do Cimento e o seu desenvolvimento no Distrito de Leiria', em 1. Congresso das Actividades do Distrito de Leiria, pág 300-310; Agostinho da Silva, 'Maceira-Lis, a futura cidade', em 'Panorama - Revista de Arte e Turismo' ano I N.9, 1942, pág 1-3

( anotação 12 ) - Grande Enciclopedia Portuguesa e Brasileira, vol. 15,s.d.,pág 746 e 785-786; Verbo- Enciclopedia Luso-Brasileira de Cultura, vol.12, Lisboa, 1971, col. 887;Armorial Lusitano - Geneológico e Heráldico, 3ª edicao, Lisboa 1987, pág 326 e 329. Embora a intervençãode Sabastião da Fonseca e de seu filho tenha sido significativa na história da Igreja Paroquial e da Freguesia, o seu Brasão não pareceu adequado, por ser demasiado complexo e não ter qualquer ligação com as caracterisitcas da Vila de Maceira